jueves, 14 de octubre de 2010

Cachoeira/BA

















Cachoeira é uma das cidades baianas que mais preservou a sua identidade cultural e histórica com o passar dos anos, o que a faz um dos principais roteiros turísticos históricos do estado. Além disto, a imponência do seu casario barroco, das suas igrejas e museus, levou a cidade a alcançar o status de "Cidade Monumento Nacional" e "Cidade Heróica" (pela participação decisiva nas lutas pela independência do Brasil) a partir do decreto 68.045, de 13 de Janeiro de 1971, assinado pelo presidente Emílio Garrastazu Médici.

O apogeu da cidade foi durante os séculos 18 e 19, quando seu porto era utilizado para escoamento de grande parte da produção agrícola do Recôncavo Baiano, principalmente açúcar e fumo, produtos até hoje contemplados no município, em virtude do clima e solo propícios da região. Porém, a economia da cidade entrou em declínio, somente resgatados no final do século XX e início do século XXI, com empresas que se instalaram na região, revitalizando a comunidade local.

A significativa presença de africanos e afro-descendentes em interação com europeus de variadas nacionalidades em Cachoeira durante o período escravista, é um dos fatores que originou a riqueza e diversidade da cultura popular em Cachoeira. Esta interação encontra-se presente no sincretismo religioso com forte presença da cultura afro-brasileira e das manifestações do catolicismo. A cidade hoje é um baluarte cultural dentro da Bahia, demonstrado nos seus inúmeros museus e movimentos populares, o que a torna marcante dentro de uma perspectiva histórica brasileira.

O Pouso da Palavra...









“O objetivo do ‘Pouso da Palavra’ é provocar a criatividade e investir na manutenção da arte”

(Damário Dacruz)

Início da década de noventa, logo após a enchente que ocorreu em Cachoeira, muitas pessoas não acreditavam na recuperação da cidade. A família de Damário, inclusive, achou na época que a loucura dele tinha ultrapassado os limites, quando o poeta resolveu acreditar na cidade. Enquanto muitos investiam na Linha Verde, Porto Seguro e Lençóis, por exemplo, a opção de Dacruz foi definitiva: comprar um sobrado na cidade em setembro de 1991 e criar o Pouso da Palavra.

O Pouso da Palavra era um sobrado em ruínas do século XVIII, restaurado com recursos próprios. O dinheiro investido na reforma do sobrado foi adquirido pelo poema “Todo Risco”. A repercussão do poema presenteou o poeta com esse grande espaço. Segundo Damário Dacruz, o governo nunca deu nem apoio técnico para a restauração do imóvel. Dacruz ainda afirma que a preocupação maior era em deixar o prédio como ele era, assim, o trabalho foi todo direcionado para o processo de restauração.

Restaurado o imóvel, surge mais um impasse: que nome dar àquele espaço que mais tarde se tornaria um ambiente de pura criação e grandes encontros? O nome, definitivo, só nasceu ápos quatro anos de busca. Como todo artista que vive em pleno processo criativo e de criação, Dacruz acordou com o nome na cabeça. Nascia então, o espaço que seria um ateliê de criação, e que tem a função de democratizar o bem cultural e apoiar a dedicação às artes.

“O Pouso abriga a palavra de todos que queiram se expressar. Ele nasceu para provocar a criatividade das pessoas, descobrir novos talentos e fazer o que chamo de manutenção de sonhos. Apesar de toda a automação do século XXI, continuo achando que a palavra e a sua redescoberta serão a grande novidade do novo milênio” (D.D.), assinala Dacruz. Este espaço não é só o lugar do poeta mas dos poetas e da poesia.

A dramaturga Aninha Franco, em visita à Cachoeira, chamou o Pouso da Palavra de “Oásis da palavra”. “Acho que é um espaço que tem que ser reproduzido em vários lugares. É cuidadoso com o conteúdo e a arte precisa disso. Oferece “ene” possibilidades para quem está ou não está antenado. É o que o Brasil precisa para democratizar a cultura, além de ter um cuidado estético muito grande”.

Hoje o “Pouso da Palavra” é uma galeria de arte, um espaço para tomar um bom café, um ambiente destinado a exibir, permanentemente, mostras de trabalho do próprio Dacruz, enfim, o lugar de levantar vôo das expressões artísticas. Esse espaço foi uma das maiores criações de Damário. É o lugar que a ele foi permitido “pousar” suas artes e repousar.

Damário da Cruz


TODO RISCO.

A possibilidade de arriscar
é que nos faz fortes
vôo perfeito
no espaço que criamos
Ninguém decide
sobre os passos que evitamos
certeza
de que não somos pássaros
e voamos
tristeza
de que não vamos
por medo do caminho.

“A possibilidade de arriscar é que nos faz homens”. Os versos do poema "Todo Risco", de Damário DaCruz, dizem muito da trajetória do poeta, jornalista, fotógrafo e agitador cultural baiano de Cachoeira.

“Avise aos amigos/ que preparo o último verso/ A vida/ dura menos que um poema/ E no alvorecer mais próximo/ saio de cena“, foram os versos de seu último poema, "Gran finale".

Em Cachoeira, criou o espaço Pouso da Palavra, fundado em 2001, que abrigava um café literário, uma galeria, um ateliê de criação e um local denominado Quintal de Sócrates, onde aconteciam recitais, encontros com escritores e saraus.

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